O Eucalipto é gasolina
na floresta e fonte de emprego e rendimento: UMA PROPOSTA
Por António Justo
No rosto das populações vê-se o
desespero e o medo perante a catástrofe da sua terra a arder. Portugal anda
a arder no corpo e na alma, levado por ventos de interesses vindos de
fora, de longe da terra e da razão. Pela reacção
de políticos, chega-se mesmo a ter a impressão que tudo fala e age sem ter nada
a perder. A fauna e a flora sofrem e com ela o povo também sob o destino da
incúria instalada.
Por onde anda o
Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento...
O MAFD teria a obrigação de
implementar e co-financiar a indústria de recuperação dos resíduos da limpeza
das florestas e de madeiras com fundos próprios e da União Europeia. As florestas ocupam mais de um terço do território nacional. A limpeza
das florestas tornar-se-ia rentável e reduziria imensamente o risco de incêndio
e de dependência energética se o Estado fomentasse economicamente o engajamento
cívico das cidades e municípios no aproveitamento ecológico de resíduos
vegetais.
Os resíduos da limpeza das
florestas e dos desperdícios da indústria da madeira podem ser utilizados para
sistemas de aquecimento biomassa e pellets (uma forma de energia absolutamente
limpa) e cujo fomento criaria imensos lugares de emprego na província e
tornaria Portugal mais independente da importação de energias. Uma outra
política corresponderá a implementar a indústria de fogos.
A Alemanha fomenta economicamente
"Aldeias com bioenergia” implementando a criação de corporativas de
serviços industriais com a finalidade de tornar rentável o lixo e aproveitar
para abastecer as cidades e aldeias com a bioenergia verde ou para produção de
pellets. Em vez de criticarem os alemães, os políticos deveriam ir à Alemanha para
aprenderem como fazer para terem um povo bem alimentado e sem necessidade de se
andarem a queixar dos outros. Se os políticos portugueses tivessem a coragem
de apreender e de servir o povo português, Portugal transformar-se-ia numa
Suíça do sul.
Não há orçamentos gratuitos e
menos ainda num país em que “o trabalho voluntário é uma treta”; isto, dito por uma política irresponsável (Catarina Martins) que deveria
fomentar e agradecer o máximo possível o honroso e enriquecedor serviço de
todos os que prestam trabalhos voluntários.
O vermelho dos fogos de um
Portugal a arder é um sinal de alerta a amarelos, laranjas e vermelhos para
acordarem. O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais não pode
esgotar-se no apoio aos bombeiros por muito auxílio que estes precisem… não
chega o anúncio de medidas com mera intenção para efeito de tranquilizar o
público. O Estado falhou e falha sistematicamente se temos em conta o resultado
da acção política portuguesa.
Vantagens e
desvantagens dos eucaliptos
Assiste-se à exploração
latifundiária da floresta a transformar-se em monocultura tal como se dá na
agricultura em plantações de cultura extensiva de batata, cereais e também na
exploração das espécies animais e na exploração das entranhas da terra.
Segundo VISAO Portugal é o país na Europa com maior área plantada de eucaliptos: 812
mil hectares o que corresponde a 8% da área de Portugal e a 26% de toda a área
florestal e proporciona uma grande receita económica para o país a nível de
exportação. 1 m3 de biomassa de eucalipto rende mais que qualquer outra árvore
e traz grande lucro até à idade de 8-9 anos (faz lembrar a industrialização
dos frangos!). A indústria de celuloses, de cosméticos e de farmacêuticas,
devido ao seu f O eucalipto, a acácia e a mimosa, onde se encontram,
comportam-se de maneira agressiva contra os seus semelhantes vegetais, se não
forem controlados transformam-se na ruina da flora. Mais que fazer guerra
emotiva e gritar contra o eucalipto ou contra isto ou contra aquilo, o
importante é criar medidas racionais que possibilitem a melhor convivência e o
proveito de todos.
Os eucaliptais esterilizam o
terreno e facilitam a erosão. Fazem lembrar outros biótopos humanos: onde se
implantam não deixam vingar outras culturas.
No país onde a raiva
impera e a razão política definha
Vivemos em tempos barbáricos em
que a exploração da natureza através dos recursos fósseis, das monoculturas e
do povo se tornou normalidade. O problema está mais numa política florestal que
falha e falta devido a uma mentalidade política perdida no dia-a-dia que não
descobriu ainda as imensas possibilidades económicas da floresta deixando-a à
deriva de interesses descontrolados.
O Portugal da província fica
demasiado longe de Lisboa! Tudo continuará a acontecer como nos anos passados,
conversa em vão, se por trás das tentativas de solução não houver um conceito
económico rentável para todos; enquanto em política uns se sentirem de férias e
outros a olhar para São Pedro, Portugal continuará à espera e a repetir-se de
período eleitoral em período eleitoral.
Portugal a arder sem que surja
mais luz; um país de terra queimada, sem aproveitar os recursos que tem, sem
faixas corta-fogo, deixa a solução do problema a empresas de aviões que ganham
com o fogo.
Acabaram com a guarda-florestal,
deixaram a FAP e o pessoal especializado de combates aos fogos nos quarteis,
não criam espaços livres corta-fogos nem regularam, de maneira racional e
rentável, a economia florestal. Com os fogos ganha muita gente: comerciantes,
construtores e os fumadores de corrupção.
Há incentivos económicos para o
fomento dos incêndios: madeireiros pagam um terço pela
madeira queimada e que se aproveita na mesma para a produção de celulose; os
fogos também fomentam a exportação da celulose, fomentam a urbanização de
terrenos ardidos e muitos outros interesses escondidos.
Qual a razão por que os Governos
em cumplicidade com o Parlamento acabaram com os cantoneiros, com os guardas
florestais, com a Forca Aérea das Forças Armadas e com os seus aviões
especializados para combate de incêndios? Fazem política
para os seus, o pessoal engravatado das 35 horas e compram submarinos para que
os nossos políticos possam sentir-se mais bonitos na Nato e iludirem a imagem,
que dão ao estrangeiro, de incompetentes de fato polido e gravata empertigada,
que não sabem sequer ter as contas em dia nem alimentar o próprio povo que
obrigam a emigrar?
Os fogos nos nossos montes e
vales e os fumos que nos atafegam já chegam tão alto como as labaredas da
corrupção nos lugares altos do Estado e dos ministérios.
O corpo e a alma de Portugal
andam, já há muito, a arder: no corpo as labaredas do fogo, na alma as labaredas
da corrupção. O povo, tal como a natureza, mantem-se em atitude de espera,
enquanto umas e outras labaredas se renovam.
A grande ilusão deste país é
pensar que a solução dos problemas virá da direita ou da esquerda e não do
trabalho produtivo da iniciativa privada e do Estado! Há interesses
instalados que fazem lembrar Nero a estimular a veia poética no ver o
espectáculo de Roma a arder e no ouvir as vozes dos cidadãos a discutir sobre
bodes expiatórios!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas
do Tempo
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