Esboço de uma Radiografia do Terrorista islâmico no Âmbito individual
Por António
Justo
Segundo relatórios da ONU, os
terroristas estrangeiros, a combater pelo EI (Estado Islâmico) na Síria e no
Iraque, provêm de 80 países e diminuíram de 15.000 para 12.000.
O Handelsblat de 16.11.2018,
refere que atualmente há 5.000 jihadistas europeus na
Síria e no Iraque. Da França provêm 627 e da Alemanha mais de 900.
Na França 9.300 são considerados
"radicais islâmicos violentos", dos quais 30% são mulheres e 20% são
menores.
De acordo com pesquisas, segundo o Die Welt,
mais de 80% de todos os sauditas e até mesmo um terço dos turcos têm
simpatia pela ideia do EI. Da mentalidade da primeira e segunda
geração de turcos a viver na Alemanha pode tirar-se conclusões preocupantes ao
verificar-se que a percentagem de eleitores do islamista Erdogan foi ainda maior
na Alemanha (64,78%) do que na Turquia. Felizmente há muitos outros turcos que
não só participam da democracia alemã como até a fomentam participando activamente
em partidos alemães.
Esboço de uma radiografia do terrorista islâmico no Âmbito individual
O muçulmano, como indivíduo, é
uma pessoa como tu e eu; o risco que muitos temem vem das organizações
muçulmanas que pregam um Islão integrista e de gueto em mesquitas.
A nível individual, na base do
terrorismo, encontra-se muita revolta, ódio, narcisismo e por vezes um certo
sentido de justiça reprimida. A nível institucional o Islão parece encontrar-se
em batalha cultural (a viver num
estado de impasse/desagrado enquanto não se encontrar em situação de maioria).
O orgulho velado conduz muitos muçulmanos ao complexo da superioridade islâmica
que os impede da atitude “à terra onde fores ter faz como vires fazer”!
No terrorista junta-se, além da
situação precária, muita raiva engolida e pregada por almas desvairadas a
sentir a areia a fugir-lhes debaixo dos pés e como tal, a sentir-se ameaçadas
porque não se sentem inclinadas à adaptação nem à concorrência. (A não
facilitar a situação, a civilização árabe, consciente das próprias fraquezas,
aposta na própria religião como artigo de exportação em contrapartida à
importação da tecnologia ocidental; de resto parece chegar-lhe o dinheiro (petrodólares)
e uma moral simples burilada à medida do islão, compreendido como a fronteira
do mundo.)
Por falta de empatia humana,
identificam-se com uma ideologia do gueto que lhes ofereça perspectivas à
medida da sua situação. Por outro lado, encontram-se numa sociedade cada vez
mais plana que aplaina as pessoas e consequentemente fomenta seres que se
agarram a símbolos genéricos.
O terrorista bebeu, muitas vezes já
com o leite, o ódio da ideologia depois alimentado por uma vida malsucedida e
afogueada por crises de sentido, que o leva a procurar reconhecimento e sentido
num grupo que talvez lhe ofereça chances de subir, ou de morrer, mas não
sozinho.
A situação precária procura uma
relação de proximidade (cumplicidade) em pessoas e em grupos também eles em
posição extrema que usam o extremismo como ponta de lança.
Como vivem numa sociedade
europeia decadente não se sentem motivados a levá-la a sério e reconhecem na
ideologia islâmica, uma perspectiva grupal libertadora e de libertação (esta
função libertadora e de libertação funciona quase exclusivamente em relação ao
mundo exterior que não seja sunita ou xiita.) Uma vez alinhados neste exército ideológico, a sua frustração da vida é
elevada a uma situação de missão vocacional. Assim, já não são eles a actuar na
sua precaridade, então passam a ser a identificação do islão em missão. De
facto, a radicalização precisa de algo adversário e de uma ideologia de vítima
que catalise as suas forças. Já que não podem fazer missão pelo transbordar de
amor pela humanidade fazem-na na raiva de uma presumida autodefesa contra um
imaginado inimigo.
O islão, ao ser considerado só como adversário, por alguns grupos da
sociedade acolhedora, também avigora, ainda mais, o extremista islamista,
porque então, ódio legitima ódio.
O islamista vive da ambivalência
entre o seu ser de fiel e o oposto (o infiel só suportável como ser inferior e
pagador de “tributo” pelo facto de não ser muçulmano), entre realidade e
idealização. A prática da ambivalência vive do medo e de um pensar polar (“branco/preto,
parceiro/adversário”) que conduz ao fanatismo isolante que não deixa sair de si
mesmo, mantendo-se prisioneiro do calor da própria cultura.
O complexo de vítima cultivado
leva-o a combater o que seja símbolo da injustiça e como tal legitimador da
agressão e do ódio; a sociedade de acolhimento ainda os fortalece nesta
situação de vítima, ao tentar ver a causa desta situação prearia apenas na sociedade
acolhedora, em vez de analisar a situação diferenciadamente.
Assim, torna-se legitimo combater
contra o inimigo e para mais quando o Corão e os Ditos e feitos de Maomé
estimulam a isso. Por medo, ingenuidade ou interesse ninguém se atreve a fazer
uma anatomia do islão e, por razões de medo inconsciente criam-se visões
unilaterais.
Por outro
lado, o narcisismo islâmico dá resposta à necessidade de superioridade e de
sentido do islamista narcisista, possibilitando-lhe a aquisição de um rosto superior. A autoestima é elevada a alta potência, e a ideologia ajuda-o como
moleta.
A ideologia possibilita a
formação de uma rede que conecta diferentes energias e que promete futuro ao
possibilitar a concretização de uma ideia numa acção. Os Media sociais funcionam como canais de
comunicação que criam a sensação de relação e de comunidade a pessoas, por
vezes, solitárias. Assim, grupos terroristas fazem uso privilegiado das redes
de Internet para a recolha de aspirantes ao extremismo.
Por outro lado, a
desindividualização dos actos crime e da pessoa, em via nos média, torna a acção
criminosa irrelevante, mas, por outro lado, a sua divulgação individualizada fomentaria
emocionalismos populares que também não são favoráveis a duas culturas que se
desejariam ambas de braços abertos.
Infelizmente
a falta de discussão séria sobre o Islão (o Corão, os Ditos e Feitos do
Profeta Maomé – Ahadith, que estão na base do agir dos terroristas) a nível intelectual e de elites políticas
não ideológicas, impede o fomento de um islão reformador (uma espécie de
protestantismo islâmico ad intra) e, deste modo, deixa o assunto aos extremos
da sociedade e para aqueles que se aproveitam do socialismo árabe para fazerem
o seu negócio. Deste modo nem é servido o islão nem as sociedades de
acolhimento e na Europa o sistema político e social sofre grandes males.
Enquanto a discussão sobre o islão
se reduzir ao discurso partidário e de grupos de interesse específico,
continuaremos a não servir nem a sociedade ocidental nem a sociedade islâmica. Já
dá nas vistas o só se falar da discriminação por parte da maioria (de deveres
da parte da maioria para com a minoria) e não se falar da discriminação por parte
da minoria (dos deveres da minoria relativamente à maioria); assim contribuímos
todos para um pensar só a negro e branco, em vez de nos encontrarmos num
diálogo que parta da natureza humana, independentemente da pertença religiosa,
para, em contextos culturais se reconhecer a cumplicidade comum.
Ao ler-se a História, verifica-se
que uma ótica de afirmação da sustentabilidade árabe na sociedade e na
história, também se dá através dos “assassinos” e de grupos esotéricos que
atuam nas/das mesquitas.
Uma religião da obediência-cega e
que alberga o terrorismo internacional, mas que se apresenta como a religião da
paz, parece ter muitos adeptos e compreendedores do terrorismo islâmico e da
discriminação da mulher, ao ver só o inimigo no tal populismo popular que reage
instintivamente às falhas da classe ideológica e política. Esta posição crítica em relação ao Ocidente (e à religião cristã) e acrítica em relação ao islão parece já
sofrer do mesmo paradigma de pensamento islâmico que, na sua tática relacional
e convencional, se serve da ambiguidade, partindo do princípio que o mal está
no outro e o inimigo está fora, o que consequentemente impede a integração.
Uma crítica do Islão não significa ódio ao Islão, mas um cuidado para que se
compreenda e este se desenvolva no tempo e para lá dos limites islâmicos, no
sentido de possibilitar uma aproximação honesta das duas culturas. A cultura árabe, comum ao islão, tem
imensas riquezas que vão da arte à literatura não se deixando extinguir num
homo arabicus confinado à religião. A nós compete-nos fomentar mais aquelas
forças islâmicas interessadas na construção de um islão aberto.
António da Cunha Duarte Justo
© Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=5076
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