A Troika (Alemanha, França e Inglaterra) da União Europeia mostrou ter chegado com o seu latim ao fim nas sua acções diplomáticas com o Irão ao ameaçar levar a questão para o Conselho de Segurança da ONU. Com um tratamento mais duro para com o Irão, através de sanções, esperam poder provocar uma mudança de curso. A Europa é o maior parceiro comercial do Irão e tem grandes interesses no mundo árabe.
Porém, quanto mais pública for a crítica ao Chefe de Estado Achmadinedschad mais brutal será a sua reacção. Déspotas não ligam às consequências negativas que o povo poderá vir a sofrer com embargos.
Um estado teocrático rege-se por outros valores que não os do diálogo e menos ainda os democráticos. A única referência são interesses imediatos que por sua vez são legitimados por o Corão e pela Scharia. Trata-se portanto de objectivos „santos: tornar-se uma potência nuclear para poder, sem consulta, condicionar a política mundial, começando por irradiar Israel do mapa, como quer o chefe de estado, ou „afogar os judeus no mar” como querem outros.
Naturalmente que a Europa não pode admitir que o Irão se torne potência nuclear atómica porque a Europa está na esfera de alcance do Irão. Países teocráticos não se deixam comprometer com convenções. O grande problema é o espírito hegemónico que ainda determina a cultura árabe e o facto de se definir em contraposição com o resto do mundo.
A aquisição da bomba atómica pelo Irão corresponderia, no contexto actual do mundo árabe a iminência duma guerra inter-cultural.
Por outro lado se o Conselho de Segurança das NU declarasse uma resolução de embargo ao Irão isto iria ter consequências muito negativas para o Iraque (maioria schiita, como no Irão) e para o terrorismo no Médio Oriente e no mundo árabe.
No Conselho de Segurança não será de prever uma decisão atendendo a que o veto da China poderia impedir a estratégia em curso. Pequim quer o óleo do Irão sendo para si prioritária a segurança do fornecimento desta matéria-prima. A chance poderá vir da pressão a obter da liga árabe que tem interesses contraditórios no seio dos seus membros. Como muitos estados árabes não vêem com bons olhos o crescimento do poderio turco, outros também não aceitariam ficar sob a hegemonia do Irão. Está também em jogo o desequilíbrio entre as forças religiosas sunitas e as schiitas).
Por tudo isto, na hora em que a diplomacia europeia parece abdicar, só resta à Europa uma alternativa a apelos públicos. A alternativa será uma política diplomática secreta para conseguir aliados no mundo. Com actos públicos de força não se conseguirá nada; a não ser que optassem por uma intervenção militar. Uma opção militar não será possível atendendo à guerrilha internacional dum certo mundo árabe e aos diferentes interesses das potências internacionais.
A Chanceler alemã Ângela Merkel já afirmou que era decisivo que o Irão saiba que „para nós é uma questão séria". É interessante o facto de os alemães ameaçarem com o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Geralmente, na sua diplomacia, alemães e franceses são muito pragmáticos e sobretudo preocupados com as relações comerciais. Tudo leva a querer que o assunto é mesmo quente e muito problemático. Interessante é a maneira moderada de Busch também ele muito interessado numa solução diplomática. Isto apesar de a América na sua política externa ater sempre presente além do aspecto económico também o idealismo da exportação da democracia para todo o mundo. Naturalmente que a América não permitirá que o Irão, na situação em que se encontra, venha a adquirir armas nucleares. Isso corresponderia à desestabilização total do mundo árabe e do mundo.
Um estado soberano é livre na decisão dos seus actos?
Uma ideia peregrina ingénua sempre passa pela nossa cabeça: porque é que um país soberano não pode ter o direito a possuir armas nucleares, tal como algumas potências? O problema é o da responsabilidade própria e universal. Uma teocracia imperialista não está ainda na situação de usar o armamento com responsabilidade, se é possível falar-se de responsabilidade na utilização das armas.
O Médio Oriente, o Iraque, o Irão, e o Afeganistão são zonas de interesse comum de americanos e europeus. São zonas muito instáveis que ainda não alcançaram a maturidade política. Só relações de boa vizinhança e de estabilidade interior poderão criar um clima de confiança e aceitação recíproca. O processo de pacificação dos Estados Unidos e da Europa foram processos longos. Por outro lado, devido ao contexto internacional e à paz a atingir, os grandes blocos não podem permitir a colonização interna dentro das outras culturas. O estádio de desenvolvimento dos vários grupos entre si não pode ser deixado, como no passado à força do mais forte dentro de cada grupo e na relação com os grupos vizinhos. A consciência dos direitos humanos individuais, já é um facto reconhecido internacionalmente, o que impede que as etnias mais fortes concluam o seu processo de assimilação dos vizinhos. O direito cultural impõe-se à lei da selecção.
Naturalmente que o mundo árabe, com os recursos de petróleo que têm se tivesse nas mãos a bomba atómica poderia cantar de galo. Neste momento da história quem canta é o mundo ocidental.
António Justo
Alemanha
António da Cunha Duarte Justo
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