A geração de sessenta via o casamento como um modelo a desaparecer. O Estado cada vez elaborou mais leis no sentido de desproteger pessoas casadas ou divorciadas. Um certo modernismo continua a ver no casamento um empecilho ao egoísmo da realização individualista. Por outro lado a sociedade continua a considerar o casamento como uma unidade da ordem. Especialmente nas sociedades industrialmente mais desenvolvidas, ele continua a merecer o interesse e a intervenção do Estado particularmente agora que a sociedade se torna cada vez mais velha.
A necessidade da defesa da família por parte do estado aumenta. Naturalmente que também o casamento deveria ser protegido pelo Estado e não só a família. Logicamente pode haver um casamento religioso sem o casamento civil. Pessoas que querem casar deviam poder fazê-lo sem necessidade do casamento civil. Para impedir tragédias com as crianças o Estado deveria dar um salário a quem assume a responsabilidade dos filhos. O medo da dependência é um grande cadeado a pesar muito. As mulheres que esperavam uma certa protecção para a família no contrato de casamento, sentem-se cada vez mais desprotegidas. Os filhos sofrem o peso da situação.
Casamento pode também ser um símbolo de estatuto e o atingir duma certa fase da vida.
A partilha a dois parece simplificar a vida. No casamento há tempos muito bonitos de bonança mas também não faltam as tempestades em alto mar. A vida é dolorosa e obedece às leis do pêndulo. Na vida de casal ou se desenvolvem estratégias para se desenvolver e progredir modificando-se ou então resignar divorciando-se para depois de 5 anos voltar a fazer o mesmo com outro. Naturalmente que também há divórcio em que tal opção é boa.
A verdade é que o casamento não oferece uma protecção mágica contra as intempéries da vida, como se espera no entusiasmo juvenil. Na vida há sol e chuva por onde quer que se ande. O problema é que com o casamento não se entra numa ilha fechada em si, fora das condições do tempo e das estações do ano. As nuvens que passam ao largo e as bategadas que se sofrem na ilha têm a ver também com o tempo lá fora fora; a própria situação depende das relações do tempo em geral e das relações sociais (geográficas) também, bem como do estado de desenvolvimento individual e das próprias neuroses.
Muitas das esperanças colocadas no casamento não podem ser satisfeitas porque irrealistas. Falta o substrato para uma relação entre dois sujeitos reduzindo-se a ligação por vezes à limitação do outro a objecto. A relação complica-se também devido à desigualdade de desenvolvimento dos dois, à diversidade de finalidades e de sentido e cada pessoa acarreta consigo uma carga de pesos e problemas herdados de que não é consciente servindo o parceiro para pôr em dia psicoses herdadas e não resolvidas.
A polis não fomenta o ser-se, nem um modo de estar equilibrado e adulto. A sociedade não tem lugar para a subjectividade responsável. As pessoas encontram-se abandonadas a si mesmas num emaranhado de condicionalismos de que por vezes não são responsáveis ou conscientes. A outra face da liberdade é a insegurança.
No casamento manifesta-se o desejo de felicidade e de se sair bem na vida, procura-se protecção e até mesmo a satisfação de desejos de dependência. A encenação pública do casamento é também um factor estabilizador e cria um espaço solidário e de reconhecimento.
Se por um lado hoje não há a pressão social para se casar, depois do casamento manifesta-se a pressão social com o desejo de filhos, uma casa, etc. Há muitos suicídios em consequência de problemas de separação e de conflitos o que mostra a importância da relação.
Um dos problemas é o facto de muitos casais não falarem um com o outro nem sobre os próprios problemas. O homem não tem tanta necessidade de se manifestar e trocar impressões. Por vezes procura sossego no seu escritório. Então a mulher sente-se instrumentalizada, apenas um ser em função de… um objecto!
Hoje o medo da separação leva muitos jovens ao medo do casamento. Muitos já têm a experiência do falhanço de relações dos pais. Apesar disso muitos querem o casamento pela igreja para assim testemunharem publicamente a seriedade da sua decisão. O pacto para a vida pressupõe a disposição de aumentar o amor no desenvolvimento individual e comunitário. O amor é uma oferta.
O casamento é um fenómeno natural e social. O ser humano completo é virilidade e feminilidade, é pensar mental e pensar místico, corpo e alma num processo de integração bipolar à imagem do Yn und Yang, da mesma realidade no Jesus e no Cristo. A concepção/criação e incarnação são dois momentos do mesmo acto.
A ânsia de se ser carne e espírito num só corresponde ao chamamento a ser, quer a nível individual, de casal ou universal.
António Justo
António da Cunha Duarte Justo
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