Na Alemanha realiza-se todos os anos o “Dia da Igreja” onde os leigos se encontram sob orientação leiga. São dias de diálogo e encontro, foro e festa para todos e para cada um em particular. Nos vários fóruns e iniciativas participam os mais altos representantes da política, da vida social, religiosa e representantes das mais diversas posições e tendências relevantes na Alemanha.
Os “Dia da Igreja” quer evangélicos quer católicos são verdadeiras oficinas práticas onde se discute em diálogo aberto, se exercita a comunidade e se prepara o futuro. Aqui assentam-se uns ao lado dos outros: representantes religiosos, políticos, cientistas, combatentes pela paz, donas de casa, pais, párocos, jovens, idealistas e activistas, todos numa atitude de aprender uns dos outros e de transmitir a própria palavra num clima calmo, só duro no questionar.
Este ano, o Dia da Igreja Evangélica decorreu em Colónia de 6 a 10 de Junho com 3.400 realizações (exposições, celebrações, manifestações, workshops, etc.,...). Contou com inúmeros visitantes além dos cento e dez mil participantes permanentes provenientes de paróquias e outras organizações. Os 110.000 participantes permanentes viveram hospedados em famílias particulares, como já é tradição.
O governo da Alemanha participou em peso e a chanceler Merkel afirmou apostar numa política dos pequenos passos que não se refugie em sentimentos salvíficos com os quais se adiam muitas vezes os problemas do mundo. Espiritualidade e responsabilidade pelo mundo andam juntas.
Temas marcantes da religião e da política são abertamente discutidos entre responsáveis directos e simples participantes. Estes vão do sexo na velhice à globalização. Resumindo entre outros: “não deixeis o dinheiro governar”; direitos humanos desprezados em Guantánamo, Chechénia, Dafur, etc; crítica ao facto da Rússia, China e USA não reconhecerem o Tribunal Internacional em Den Haag; islão entre delimitação e perfilamento; Deus não é cristão, muçulmano nem budista; o mercado instala a desgraça, é preciso acabar com a escravidão de salários desumanos; a globalização deve ser para todos; combate à pobreza; criação dum banco para os pobres; necessidade duma mudança na atitude interior; a Igreja quer construir pontes; etc.
Depois de tanto tempo de abandono da praça pública à inércia e aos neo-marxistas vai sendo tempo da cristandade (teístas e ateus) e outras forças deixarem de se fechar na interioridade. É preciso arregaçar as mangas e tornar-se mais activo na construção dum mundo melhor. A sociedade precisa de todos na tolerância e no respeito como pressuporia um modo de estar cristão no mundo.
O mundo não é pertença dos que o dominam. Ele foi usurpado à humanidade construindo-se um mundo paralelo em que a mais valia de uns se deve à desvalorização dos outros através dum sistema desumano. Urge entrar em diálogo sério entre as pessoas ao nível da humanidade de cada um e não a nível dos sistemas já desnaturados. É preciso entrar em diálogo mesmo com os terroristas e talibans como solicita Jesus ao dizer “amai os vossos inimigos” e como defende o presidente do “Dia da Igreja”, antigo presidente do Estado Sachsen-Anhalt, ao afirmar: “também os inimigos se devem sentar à mesa das negociações”.
O cardeal Karl Lehmann referiu-se aos temas que separam o catolicismo do protestantismo e vice-versa – participação comum válida na liturgia dominical, reconhecimento mútuo do casamento e eucaristia comum – que deveriam ser tratados com mais urgência.
O arcebispo e Prémio Nobel da paz Desmond Tutu dirigiu, do Dia da Igreja, uma missiva evangélica ao Grupo dos Oito com as palavras:”Eu sou um africano. Sou um homem. Sou uma pessoa. Não sou um objecto que precisa de esmolas. Eu sou orgulhoso. Não sou um objecto que precisa de compaixão. Eu fui criado à imagem e semelhança de Deus. Nós fomos criados para vivermos juntos. Só podemos sobreviver juntos. Nós só podemos ser humanos juntos. Vós, dirigentes, podeis perguntar-me o que é que eu preciso, o que quero. Então pergunto-vos eu a vós: o que é que precisais vós de mim?”
O Dia da Igreja possibilita o sentimento de comunidade e leva os participantes a voltarem às comunidades locais com novos impulsos e iniciativas a aplicar e experimentar no dia a dia.
Quando será possível realizar em Portugal ou noutros países o que é possível numa Alemanha onde a ausência do anti-clericalismo cultural tornam possível um diálogo produtivo sem que política, economia e religião se envergonhem uns dos outros num espírito de complementaridade e de serviço mútuo. Responsáveis dos vários quadrantes terão que se dar as mãos numa visão integral de Povo.
Em 2008 realiza-se o 97.° Dia da Igreja católico em Osnabruck e em 2010 o Dia da Igreja ecuménica em Munique.
António Justo
“Nas pegadas da Igreja”
António da Cunha Duarte Justo
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