Finalmente no posto máximo do Estado um social-democrata. Portugal começa a reconciliar-se consigo mesmo. Mais uma desilusão para uma certa elite de bronzeados de Abril que tinham medrado à sombra de cargos e instituições. Também eles trabalham mas pondo, muitas vezes, o legado português ao desbarato dum internacionalismo desalmado.
Uma maioria absoluta logo à primeira volta. Portugal elege Cavaco, um homem que provém do povo e se preocupa com o povo, com a economia e com os valores culturais. Pai do “milagre económico” português de 1985 a 1995 é chamado, de novo, a dominar a crise geral de Portugal: desemprego 7,7%, má distribuição da riqueza nacional, grande contraste entre a periferia e o centro, um sistema de ensino doente, falta de produção e rendimento, os coutos sindicais e administrativos, uma mentalidade de novo-rico, a falta de confiança nas instituições, falta de uma política de poupança e de contenção do estado.
Portugal dá assim expressão à necessidade duma figura de integração. Para isso elege Cavaco Silva que, fiel à sua pessoa, responde: ”Serei o presidente de todos os portugueses”.
Um povo repetidamente desiludido deseja a mudança. Coloca as suas esperanças num homem sério e empenhado, não na ideologia mas sim nos valores humanos e nacionais. O seu rival Soares, mais interessado em desintegrar, é despedido, saindo pela porta traseira da história. De facto, Soares foi mais partidário do que português. Com a eleição de Cavaco há mais Portugal e menos partido. Cavaco Silva diz que é preciso trabalhar, que é precisa inovação e que é preciso respeitar mais os valores da nação. Não será fácil atendendo à propensão e abertura popular à ideologia e à tradicional instalação das ideologias no aparelho do estado. Há muita gente militante não interessada em ver a realidade extremamente precária da situação portuguesa nem em levá-la a sério e desatenta ao que acontece no contexto europeu. O seu bónus é a ideologia.
Finalmente um social democrata em Belém, o lugar donde partiram as grandes caravelas portuguesas. O lugar onde a social-democracia terá de redescobrir e impulsionar os valores que tornaram grande Portugal. Estes valores, naturalmente renovados, passarão por Deus, pátria e família. Queremos um Portugal moderno mas com uma identidade própria. Um Portugal com partidos modernos que vivam do povo para o povo, na união de forças.
Um dos grandes esforços será o do progresso da economia portuguesa, o da defesa da cultura portuguesa e da estabilidade institucional.
A coabitação Belém – São Bento terá que levar à união de forças no sentido da renovação do país. A capacidade interventora do presidente é limitada; tem porém um grande peso controlador e impulsionador. Naturalmente que, tal como o seu antecessor, poderá, um dia, usar do poder da dissolução do parlamento. A tarefa não é fácil atendendo também à pressão das esperanças colocadas no presidente Cavaco Silva. Uma grande tarefa será também a de desideologizar as instituições e a praça portuguesa.
António Justo
Alemanha, 23.01.2006
António da Cunha Duarte Justo
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