O ocidente europeu esquece os anseios do povo para pensar apenas em termos de estratégia militar e económica. Esquece os sonhos dos povos passando logo à ordem do dia, ditada esta apenas pela economia. Sem ideais aposta no liberalismo económico e nas leis do mercado como reguladores de todas as necessidades sociais e na capacidade do eixo da Europa (Alemanha, França, Inglaterra e em parte Itália) para puxar o resto da caravana. Consequentemente reduz-se o nível de vida da pequena burguesia e os direitos sociais e tarifários do operariado.
O povo dos países da periferia, que tinha colocado grandes esperanças no processo da unificação europeia, verifica que se melhoram as infra-estruturas do país mas que o melhoramento do nível de vida só beneficiou propriamente os funcionários públicos.
A Polónia dá-se conta do que se passa e protesta. Logo é vista como factor perturbador dum processo económico de carácter anglo-saxónico: fortalecimento da nação à custa do seu povo e da sua cultura transferindo riqueza do povo para as grandes empresas. Estas são a ponta de lança da nova economia na conquista do mundo. Assim nas economias fortes processa-se um empobrecimento do povo; dá-se, a nível popular, um nivelamento de dependência em direcção à plataforma dos pobres das nações da periferia. Pretende-se uma socialização da pobreza a nível internacional, um substrato comum.
À queda das conquistas socialistas no Leste segue-se no Ocidente o processo da derrocada das conquistas laborais e sociais do operariado.
Se o comunismo nunca partiu duma base democrática tendo sido sempre imposto de cima torna-se agora constrangedor passar-se ao ditado do determinismo mercantil.
A periferia é que possibilita o centro
A periferia, uma vez na União Europeia, constata que continuará periferia; não haverá processo dinâmico... As nações mais fortes continuam com o seu nacionalismo económico a vergar a Europa aos seus interesses.
Nos países de leste observa-se uma crescente resistência popular, um cepticismo perante a prática europeia em curso. Aí o povo reage surgindo movimentos nacionalistas, que escandalizam a vizinhança ordeira.
Ao nacionalismo estatal económico das nações ricas contrapõem-se as tendências nacionalistas que fervilham já no subconsciente das nações da perefiria. Nas grandes potências o povo cala porque o governo actua de modo nacionalista. Os cidadãos da Europa rica podem dar-se ao luxo de renunciarem ao patriotismo, conscientes de que os seus governantes defendem com unhas e dentes os interesses nacionais, uma economia nacionalista. Assim é fácil ser-se liberal! Nos países marginais as elites parecem mais na disposição de sacrificarem os interesses nacionais e culturais vivendo do dia a dia o que provoca descontentamentos populares.
Nacionalismo inteligentemente empacotado
Um Facto: Na Alemanha é proibido vender-se aparelhos com consumo excessivo de energia. Em Portugal comprei 3 fogões eléctricos de cozinha para a minha casa, confiando na qualidade alemã. Depois de os ter instalado verifiquei com admiração e consternação, ao ler as instruções em português que havia também um aviso só em alemão. Este indicava que aqueles fugões não podiam ser vendidos na Alemanha devido a consumirem demasiada energia. Inteligência saloia arrogante! Isto é exemplar para o modo de agir duma economia nacionalista e do comportamento dos países da periferia. E isto dá-se em plena União Europa! Para os países ainda menos desenvolvidos irá então o ferro-velho! Na Alemanha teria dado menos dinheiro por um fogão de menor consumo de energia do que dei em Portugal por aquele e com a agravante de que a energia em Portugal é mais cara do que na Alemanha. Seria de esperar dos nossos diplomatas mais atenção à tecnologia e às leis na defesa dos interesses nacionais. (Será este um serviço de Portugal à EDP?!...)
Os cidadãos europeus sentem na prática uma política europeia contra as pessoas. Uma União Europeia só interessada na economia dos mais fortes é bífida e fomentará a demagogia. No fundo temos demagogos de gravata contra os demagogos do pé descalço! Meio mundo a enganar o outro meio.
Não se constrói futuro duradouro baseado apenas numa estratégia da força das instituições europeias e de nações fortes com as outras a elas atreladas. Precisa-se de uma cooperação económica, política e cultural menos hipócrita e nacionalista. Uma Europa forte e justa não pode ser construída apenas com nações ricas e instituições fortes à custa dum povo enfraquecido. O povo paciente e mole tem-se contentado com parolen de liberdade e de mercado. Por quanto tempo? A classe média tem sido sistematicamente expropriada em favor da grande indústria e em benefício dum Estado irresponsavelmente paternalista (comunismo pela porta traseira!) e à custa duma população cada vez mais “proletária”! Não há justiça social nem interesse em dar-lhe resposta. Quer-se uma população assalariada disponível a nível nacional e disciplinada pela concorrência da imigração carenciada importada. Ao nível de Estado exportam-se os produtos industriais de alta qualidade e a nível de nação importa-se a pobreza global. Uma forma de escravidão refinada! Esta imigração barata possibilita, através das suas remessas, às elites das suas nações de origem a compra de produtos tecnológicos caros. A pobreza do patamar baixo anima o mercado! Tudo comércio legítimo, mas muito longe duma justiça humana aceitável. Tudo em nome da democracia, da liberdade, da solidariedade e do liberalismo do mercado. Para iludir o espírito crítico sobre o presente basta, para quem se julga alguém, recorrer a uma crítica apelativa e repetitiva de certos lugares comuns das vergonhas da nossa história e instituições, na omissão benigna do presente!
Na União Europeia, uma tal prática democrática começa a dar já sinais de não convencer e a dar argumentos ao populismo de esquerda e de direita, já pronto para atacar a democracia. Se compararmos o tempo e a circunscrição da democracia com a História e com o mundo bem como a realidade do que acontece fora da civilização ocidental, a democracia correrá perigo de se tornar num episódio esporádico. Além dos problemas de casa criam-se outros promovendo mundivisões alérgicas à democracia em nome da tolerância e dum internacionalismo progressista irresponsável. A ingenuidade política e social é hoje tal que não vê a trave nos olhos dos outros para se preocuparem com o cisco nos próprios olhos. As pessoas do século XXI querem felicidade, não chega o pão e a ideologia.
Não basta que à monarquia hereditária se tenha seguido a alternância partidária no governo. Se se quer uma consciência democrática no povo para lá de preconceitos e de estereótipos é preciso fomentar-se uma democracia plebiscitária em que o povo tenha de reflectir sobre aquilo que decide porque lhe toca directamente e não de abdicar do saber para seguir o patuá dum partido ou ideologia. O plebiscito obrigaria os políticos a descerem ao povoado e a viverem em discussão séria permanente com o cidadão com a consequente humanização da política e dos políticos e a responsabilização do povo. Não é suficiente ópio partidário nem tão-pouco apenas transmitir saber sobre democracia como querem muitos políticos mas de fomentar uma atitude participativa nobilitante. A representação política cederia em favor duma acção, duma consciência política de povo adulto. Porque não seguir o exemplo da Suiça?
António da Cunha Duarte Justo
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