Faleceu a 28 de Janeiro no seio de sua família, com 75 anos de idade. As exéquias fúnebres serão realizadas a 07.02.2006 em Berlin. Foi um presidente que se definia como Alemão e como Cristão. Não tinha receio em afirmar que “ Política é aplicação do amor ao próximo”. De facto, na sua simplicidade, honestidade e alegria, foi o presidente mais querido de todos os presidentes alemães. O povo apelidava-o de “irmão Johannes”. Neste atributo estava subjacente um misto de bondade, de ingenuidade e de boa pessoa. Por outro lado, todos os representantes políticos alemães o respeitavam e o consideram como o mais político de todos os presidentes alemães.
Johannes Rau foi um dos pilares do SPD alemão. Não se deixou levar pelo “espírito do tempo”, pelo Zeitgeist, pela ideologia, como estava acontecendo durante a sua presidência no governo de coligação SPD/VERDES sob o chanceler Schröder. Ele não fazia parte da geração dos “sobrinhos” de Willy Brand (os seus benefeciados Lafontaine, Scharping, Schröder e Wieczorek-Zeul), mais virados para a ideologia do que para o povo. Rau não via com bons olhos a mudança de estilo político destes que, depois de Willy Brand, a nova geração, se preocupavam demasiado com as encenações na televisão e com meras retóricas e efeitos de show político com desprestígio pelas estruturas do partido e da ligação pessoal aos membros. Porque enraizado na fé cristã nunca cedeu às ideologias socialistas mostrando, por outro lado, a relevância dum socialismo humanista cristão. A nova geração de políticos torna-se mais helenística, mais politeista enquanto que Johannes Rau permanece fiel à tradição judaico-cristã. Platzeck, novo Chefe do partido SPD é um admirador de Rau e quer seguir-lhe o exemplo. Certamente uma sorte para o partido que corria perigo de se tornar cada vez mais a expressão exagerada de certas reminiscências moralistas da geração 68.
Rau não aceitou o conceito de multicultura por reconhecer nela um conceito de combate. Ele, apesar da história trágica da sua nação, quando muitos dos intelectuais tinham vergonha de se declararem patriotas, declarou-se sempre como patriota. Ao mesmo tempo que manifestava publicamente orgulho por ser alemão, admoestava: “nacionalismo e terrorismo andam muitas vezes de mãos dadas”.
Homem suave na voz e no discurso não tinha papas na língua ao chamar os políticos à atenção dizendo que “muitas vezes dão demasiado com a língua nos dentes” e com isto a democracia enferma. Chamou a atenção da política para zonas alemãs menos favorecidas, para os pobres, para a integração e para o respeito e bom trato dos estrangeiros. A sua ideia era reconciliar em vez de dividir. Criticou os Media que, por vezes, se tornavam incautos e irresponsáveis. Criticou a avidez de directores de empresas e bancos com ordenados provocantes. Apelou para o perigo crescente da sociedade se subjugar às leis do mundo do mercado. Lutou sempre por um mundo mais humano. Embora presidente com muitos afazeres ele pegava no telefone e telefonava a pessoas desesperadas ou pessoas simples que lhe escreviam. Estas, às vezes, não acreditando que o presidente lhes telefonasse, desligavam o telefone mas ele voltava a telefonar. Era um homem com coração de povo. Ao slogan maquiavélico de que a guerra é a mãe de todas as coisas ele contrapunha a fraternidade, a irmandade. Um democrata exemplar, um cristão cordial que confiava em Deus e dizia “eu trago, eu conduzo, eu suporto porque sou trazido, conduzido, suportado”.
Empenhou-se no entendimento dos povos. Foi o primeiro e o último presidente da geração da guerra que, em 2002, falou no Parlamento de Israel. Aí falou, em língua alemã, dos crimes alemães, da reconciliação e da responsabilidade. Teve também gestos de reconciliação com a Polónia. Todos aceitavam o seu discurso porque sabiam que era autêntico e norma de credibilidade. Durante 50 anos trabalhou activamente na política em defesa dum mundo mais justo no sentido do próximo. Este era um homem honesto que toda a gente podia querer bem. Não teve apenas uma função, ele foi sobretudo Homem. Interessava-se por tudo e não apenas pelo aparelho do Estado, pelos funcionários. Para ele, não estavam em questão apenas os objectivos ou os programas políticos; no centro das suas preocupações estavam sempre as pessoas.
António Justo
Alemanha
António da Cunha Duarte Justo
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