A Cimeira, Fundada em 1975, tem hoje 8 membros: USA, Franca, Inglaterra, Alemanha, Japão, Itália, Canadá e Rússia. São os países ricos do Norte, os grandes do mundo que se juntam para afinar agulhas e determinar a velocidade de andamento do mundo a caminho da globalização.
Os países industriais mais importantes transformaram as suas cimeiras em grémios de decisão o que provoca grande reacção. Além disso a composição dos membros do grupo não é lógica. Que justifica a Itália como membro e não a índia, o Brasil, a Polónia ou a Espanha?
A necessidade duma tal cimeira é justificada por alguns, devido às falhas da UNO. Obviamente seria melhor a existência dum Conselho económico e social, a nível de UNO, à imagem do Conselho de segurança. As grandes nações, porém, não estão dispostas a abdicar da sua soberania na delegação de poderes de decisão a terceiros. No Conselho de Segurança da UNO, as nações dominantes salvaguardaram o nacionalismo através da possibilidade do uso do veto.
Um problema consequente da exclusividade da participação dos maiores é o facto de, naturalmente, serem sempre salvaguardados os interesses reais dos grandes, sendo os interesses das nações pequenas relegados para o capítulo da moral.
Como na vida também em Heilligendamm se pode constatar os governantes separados dos governados. Para o efeito foi construída uma sebe de 2,5 metros de altura e com 12 km de comprimento em redor do lugar do congresso. Os custos da Conferencia estava estimados em 100 milhões de €. Só a vedação custou 12,5 milhões de €. Além disso o contribuinte tem de pagar outros milhões devido aos estragos provocados pelos manifestantes. Só em Berlim, antes da cimeira começar já tinham sido incendiados mais de 100 automóveis. Na véspera subiram a 1000 de vítimas (400 polícias e o resto manifestantes) em resultado do tumulto entre uns e outros.
A liberdade de expressão tem os seus custos económicos colaterais que também têm justificação.
Os manifestantes vêm de todo o mundo, provenientes das mais diversas organizações. Neles se encontram grupos religiosos e políticos com preocupações semelhantes e com um denominador comum anticapitalista. O grupo de esquerda, „Os Autónomos“, manifesta-se especialmente radical e violento. É revelador o facto da aparente falta de organização dos grupos (e suas diferenças fundamentais) contestatários se revelar uma infra-estrutura operante internacionalmente e de grande eficiência.
O movimento antiglobalização, que contesta o G8, acusa-o de ser uma instituição neoliberal, sem legitimidade, que decide objetivos e políticas que afetam toda a humanidade. A política económica é orientada no sentido das multinacionais e grandes investidores sem contemplar os direitos dos camponeses.
A Cimeira dos 8 provoca reacções naqueles para quem o domínio dos poderosos é inquietante e provocador. Os manifestantes mostram, cada grupo à sua maneira, a voz daquela parte das sociedades que não está de acordo com a política dos governos e em especial com a globalização selvagem.
Em vez duma cultura integrativa, do diálogo prefere-se substituir o ouvir pela escuta, pelo controlo de telefones e de computadores., É a filosofia e a lógica do poder. Agressão contra agressão. As duas partes em Heiligendamm provaram que o medo uns dos outros se tornou senhor. Depois dos desafios de Heiligendamm restará um sabor amargo a má consciência das duas partes, próprio duma cultura do medo.
Todos pensam ser lógico que a violência não deve ser meio de solução de conflitos. O problema está em determinar onde começa a violência, para mais num sistema económico apenas orientado pela economia. O dinheiro governa o mundo, à margem da humanidade.
A conferência não deixa as pessoas indiferentes porque elas serão as atingidas e cada qual se define pelos outros. O maior problema é que o fosso que separa ricos e pobres é cada vez maior. Na órbita dos dominadores não há diferença entre capitalistas e socialistas. As diferenças só existem e se colocam a nível de povo. Este, cada vez tem de trabalhar mais para satisfazer necessidades artificiais que lhe são sorrateiramente sugeridas.
A sociedade é injusta e vive da injustiça. Somos nós a sua massa. A corrupção vive dos corruptos e da exploração da massa inconsciente.
É interessante constatar que milhares e milhares de contestadores da globalização se juntaram, vindos de todo o mundo, para protestar contra a globalização. Globalização contra globalização!...
A globalização dá oportunidade ao surgimento duma classe média forte nos países do terceiro mundo. Por outro lado provoca a proletarização de grande parte da classe médias das tradicionais sociedades ocidentais. O confronto com modelos diferentes abre o horizonte e motiva uma nova classe surgindo, nos tradicionais países pobres, a empenhar-se por um futuro melhor. A exploração de trabalhadores baratos é o outro lado da moeda.
Por trás de tanta intenção de ajudar também se esconde muita hipocrisia. Por um lado impede-se a importação de produtos de países do terceiro mundo com a sobrecarga de impostos de alfândega e por outro lado subvencionam-se os próprios produtos agrários com biliões de € aos lavradores dos países ocidentais. Ao fgim e ao cabo assiste-se à luta da industrialização contra os países de economia agrária.
Importante é a questão: que se faz com a globalização a nível interno e externo. Nas manifestações em torno da cimeira torna-se evidente a necessidade de configurar a globalização de maneira humana de modo a ela dar resposta não só a aspectos económicos mas também às necessidade sociais e ecológicas de toda a humanidade.
Não seria legítimo que a necessidade de segurança dominasse sobre a necessidade de liberdade e o Estado se aproveitasse da ocasião para mudar o estado de direito num estado vigilante, policial.
A globalização é um fenómeno natural do desenvolvimento. O que é preciso é agarrar as rédeas duma economia à rédea solta e subjugá-la ao Homem.
António Justo
António da Cunha Duarte Justo
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