sábado, 17 de novembro de 2007

Israel entre a Bomba Iraniana e a Bomba Demográfica Árabe

A grande incógnita
O conflito do Próximo Oriente é crónico e característico. Como tal, a terapia não só tem a ver com o corpo, com a geografia, mas sobretudo com as almas de duas culturas. O tratamento será caríssimo e apenas a nível de sintomas. O estado de saúde actual (e o currículo) do Primeiro-ministro Ariel Scharon poder-se-ia ter como simbólico para o estado de toda a região. Processem-se embora certos desenvolvimentos a vida terá sempre uma componente artificial. Israel só se conseguerá manter com o apoio do Estados Unidos e da Europa.
Aqui estão em jogo interesses incompatíveis nos campos: económico, estratégico, religioso e de etnias.
A política oficial da preservação de Israel como um Estado judaico constituirá uma grande aposta.
Depois da retirada de Israel de Gaza, o desenvolvimento das relações israelo-palestinas dependerá sobretudo da capacidade da Autoridade Palestiniana para conseguir dominar o terror palestino. Se o terror acabar, os Estados Unidos farão tudo para que haja uma solução viável para as duas partes.
A construção do muro na parte Ocidental do Jordão não se revelará como negativa na procura duma solução pacífica. De facto com a sua construção, por muito grotesco que pareça a sua construção tem salvado vidas; além disso um muro em qualquer altura se pode deitar abaixo, como argumentam os israelitas (Logo que o terror acabe!). A questão do muro só se porá, a nível internacional, se ele for construído para lá da linha verde, da fronteira de 1967.
No futuro, o maior problema existencial para Israel será, porém, o da bomba demográfica. Em 2003 dos 6,7 milhões de habitantes de Israel, 81% eram judeus ou de outra origem étnica, enquanto que 19% era árabe. Com o crescimento da população árabe são criados factos que superam qualquer previsão porque o problema se põe especialmente no momento em que a cultura árabe domine. Esta inclina-se a viver em guetos até se poder pronunciar maioritariamente. Segundo as contas de cientistas, daqui 20 anos, a etnia árabe passará a constituir a maioria da população de Israel. Nesse momento o estado de Israel deixaria de existir... É natural que Israel não poderá impor um sistema de Apartheid como acontecia na África do Sul. Facto é que os árabes não se mudarão tão rapidamente nas suas atitudes e isso terá como consequência medidas muito difíceis para todas as partes.
Um outro problema é o da independência dum estado palestiniano só ser possível com grande apoio económico de Israel. De momento a Autoridade Autónoma Palestiniana depende economicamente 75% de Israel. Um Estado Palestiniano não será viável sem a ajuda de Israel. Um busílis portanto! A Israel só parece restar a alternativa de fortalecer o seu inimigo figadal. Por outro lado não se conhece nenhum estado muçulmano com vocação multicultural… Ainda temos muito que andar e ver Israel entre a Guerrilha e a Bomba Demográfica Árabe!
Israel tem razões mais que suficientes para se temer do seu futuro! O presidente do Irão só diz, descaradamente e em voz alta, o que o povo árabe pensa. Ele pode dizer as barbaridades que disser porque sabe que o mundo ocidental se encontra apenas preocupado com o seu bem estar económico dependente do mundo árabe.
Israel já desde há seis anos que chama a atenção para o problema da bomba iraniana. Uma solução diplomática não será fácil. Por outro lado Israel não poderá esperar muito tempo. Israel não esperará até ao momento em que a bomba iraniana exista.

Para uma melhor compreensão do contexto
Os Judeus desde há 3000 anos consideram a terra de Israel sua pátria. O estado israelita do povo judeu conseguiu manter-se no meio do povo filisteu até à sua diáspora provocada pelos romanos no séc. II. Desde então os judeus encontram-se na diáspora espalhados por todo o mundo. A região foi islamizada a partir do séc. VII. No séc. XIX o movimento sionista toma iniciativas para a fundação do Estado de Israel na Palestina. O holocausto dos judeus pelos nazis torna mais evidente a necessidade da restauração do estado de Israel. Em 1947, a Assembleia-geral da ONU determina a criação de dois estados na região: um estado judeu e outro árabe. Isto em consequência do mandato do protectorado britânico na palestina vir a terminar em 1948. Neste plano a cidade de Jerusalém ficaria sob a administração internacional da ONU, atendendo aos interesses das três religiões (judaica, cristã e muçulmana) sobre Jerusalém. A reivindicação da soberania de Israel sobre a cidade de Jerusalém constitui um grande entrave às negociações de paz.
Os países árabes não aceitaram a existência de Israel, pretendendo invadir logo a zona israelita após a saída das tropas britânicas. Começou desta maneira o conflito israelo-palestiniano. O novo estado de Israel repele as forças árabes e ocupa a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, territórios do planeado estado árabe/palestino. Efectivamente, a 14.05.48 é declarada a fundação do estado de Israel e logo no dia seguinte, sete exércitos árabes atacaram Israel. Foi provocada uma onda de refugiados (7000.000) que, para fugirem às contendas, se instalaram nos países vizinhos. Com a vitória de Israel, a maioria desses refugiados foram proibidos de voltar para suas terras. Em 1964 o Alto Comissariado da Palestina solicita à Liga Árabe a fundação de uma Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento de um estado palestiniano. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido em 2004.
Muitos judeus também não aceitavam a co-existência de um estado árabe palestino confiando talvez na lei da assimilação, a lei do mais forte; esperando que através da colonização interna se resolvesse o problema; não contaram com a força da ideologia e do petróleo nem com a pressão internacional que nem sempre se rege pelas leis de Darwin. As despesas astronómicas despendidas com a segurança e a pressão dos cidadãos levaram Scharon a abandonar a Faixa de Gaza. Aqui viviam 6.000 colonos judeus que tinham de ser defendidos por 10.000 soldados israelitas.
O cessar-fogo entre as partes beligerantes possibilita a retirada das tropas israelitas da Faixa de Gaza. Assim criam-se pressupostos concretos para realizar a transferência de soberania e o consequente reconhecimento do território, dois factores fundamentais para a existência de um Estado soberano palestino.
São grandes as chances do estado Palestino surgir de facto, pois as bases políticas e institucionais da Autoridade Nacional Palestina (ANP) são reconhecidas pela comunidade internacional, com a presença das Nações Unidas como membro observador. A comunidade internacional está muito interessada na paz nesta região atendendo à importância do petróleo árabe. Uma solução duradoura só será verdadeiramente possível com a moderação ocidental e depois duma revolução cultural no seio do povo palestiniano e da civilização árabe.

António Justo
Alemanha
António da Cunha Duarte Justo

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