sábado, 17 de novembro de 2007

Tatuagem do Corpo: uma arte ou mutilação?

Na procura da própria identidade

Tatuar e pintar o próprio corpo corresponde a uma necessidade e a uma tradição ancestral. A tatuagem era então usada como ornamento e em certos casos como penitência ou para alcançar graça perante os deuses.

Entre marinheiros e piratas era sinal de coragem e de revolta. Entre grupos rock era sinal de força e virilidade.

Piercing surgiu na América entre homossexuais e simultaneamente entre Punks como forma de protesto contra a sociedade convencional.

Hoje tornou-se num culto entre os jovens, um ritual de transformação. Expressa o desejo de se querer tornar mais atractivo ou de se considerar o corpo como uma obra de arte. Corresponde a uma ânsia de se definir e demarcar e de contestar os preconceitos sociais. A juventude pretende captar a atenção pela negativa e pela positiva.

Para Irene Antoni-Komar, no seu livro Haut und Ornament “A pele já não é aceite como fronteira entre o eu interior e o mundo exterior…O corpo, ou seja, a pele torna-se numa superfície para a projecção de experiências limite do próprio corpo e da cultura.”

Numa época em que socialmente o auto-controlo e a disciplina não são cultivados, muitos demonstram essa necessidade na disciplinação do próprio corpo e na necessidade de se distanciarem. Provam assim que o seu espírito de abnegação é um facto contra uma sociedade acusadora por vezes fixada em clichés. Na sua forma de protesto contra uma sociedade que não sabe o que quer e que segue apenas o espírito do tempo provam capacidade para a mudança e persistência em aguentar a dor. Com a sua coragem querem mostrar auto-consciência e auto-estima reagindo contra uma sociedade desmotivadora. Mostram grande energia inovadora que não é convertida em termos sociais.

O problema está na medida. Entre outros sintomas encontra-se também o sado-masoquismo de premeio, chegando mesmo ao extremo de amputações. Auto-ferimentos e exageros provêm, por vezes, de depressões, podendo estas conduzir ao isolamento social. Formas extremas podem apontar para uma infância abusada que se expressa agora no desejo de querer superar ou esconder velhas feridas.

Uma vez que a sociedade já aceita esta forma de contestação a tendência para a tatuagem ou piercing diminuirão.

No futuro, os espertos prevêem a tendência para implantações subcutâneas. Na Alemanha foi já proibida a menores tais operações.

Para alguns põe-se o problema de emprego. Uma estigmatização levá-los-ia a refugiar-se numa subcultura contestadora.

A juventude mostra um grande potencial de energia. Será que a nossa sociedade não o merece?

António Justo
António da Cunha Duarte Justo

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