Nos anos sessenta a Alemanha, a Europa, abriu as portas à Turquia porque precisava de mão-de-obra para as suas fábricas. Hoje continua aberta, e come e cala, porque as empresas alemãs têm grande interesse no mercado turco e na capacidade financeira do mundo árabe que é bom pagador.
As nações europeias possuidoras da grande tecnologia fazem o negócio e a Europa paga as favas…
A resignação de muitos tribunais alemães perante os costumes islâmicos é bastante pragmática na sua tolerância. Acreditam que a economia é que faz a fé. No caso de dúvida a fé fica para os pobres e os euros para os ricos, para os esclarecidos. Quando chegaremos finalmente a uma sociedade esclarecida?
Sintomático é o facto de a opinião pública não se colocar ao lado de mulheres e homens turcos defensores do direito das mulheres e do progresso. No caso da advogada turca de Berlim, Seyran Ates, que, por defender mulheres turcas vítimas dos seus maridos, se viu obrigada a deixar de exercer a profissão devido às ameaças contínuas dos homens, ninguém se interessou, o mesmo vai acontecendo com pessoas corajosas muçulmanas que se atrevem a defender publicamente os direitos humanos dentro da sua cultura. A solidariedade parece dar-se com os fundamentalistas e suas acções propagandistas.
Esta atitude ambígua pensada até ao fim, parece confirmar a ideia, de alguns, de que a defesa dos direitos humanos no ocidente não passa de uma armadilha para apanhar incautos. Nisto se vê que na opinião pública não há quem se interesse pelos valores da nossa sociedade. Eles estão à disposição do Euro e do mercado mesmo à custa do ser humano. Depois da morte de Deus e do falhanço comunista e fascista só parece ficar o dinheiro e, para desenfastiar, a revolução. Em tempos de transição aceita-se o terrorismo. Ninguém leva ninguém a sério.
O medo do Islão não se pode reduzir à má consciência e ao oportunismo económico. Isto desprestigia tudo e todos. O mundo ocidental tem também muito a aprender do Islão, devendo por isso levá-lo a sério e na própria transformação ajudar o Islão a transformar-se. Não caminhamos no sentido dum mundo global?
Por tudo isto os europeus não tomam a sério o extremismo turco e árabe no desrespeito pela cultura árabe e pela cultura ocidental.
Muitos satisfazem-se com a argumentação da investigação islâmica, segundo a qual, os muçulmanos manifestam um agir de subordinação hipócrita perante a política e perante o estado. Esta constatação pode ser verdadeira dentro das sociedades maioritárias; nas minoritárias tem-se visto pela história que esperam pacientemente até ao momento oportuno. Isto não fala contra eles, é mais uma estratégia de sobrevivência e auto-afirmação na luta cultural. Quem se empenha por um mundo melhor tem que realisticamente dar-se conta da realidade para a poder melhorar no respeito mútuo.
O “gueto” religioso e espiritual condur ao “gueto” social
Na Turquia não há liberdade religiosa nem em nenhum país árabe. Duma maneira geral as minorias religiosas são consideradas inimigas do estado. Na própria Turquia, que onde lhe convém se declara como sendo um estado laico a união entre política, Islão e imprensa é de tal ordem que não permite qualquer liberdade que não seja a dos muçulmanos. São campeões na deturpação dos factos. Os cristãos não são admitidos para empregos do estado. Mesmo no caso da minoria arménia que tem alguma escola privada, esta tem que ter um vice-reitor muçulmano para controlar. Uma sociedade que só reconhece o seu “gueto” religioso e espiritual acaba no “gueto” social. Um grande problema para a Turquia é o facto de identificar religião e tradição como uma só coisa. Isto, no caso de desenvolvimento, terá como consequência o questionamento fundamental da religião.
A Turquia não reconhece o direito dos cristãos transmitirem a sua fé. De 30% de cristãos no princípio do século XX hoje não resta sequer um por cento. Na execução do cristão alemão (tradutor) e dos dois cristãos convertidos ao cristianismo encontra-se a assinatura dum povo que no próprio país não tolera outros e no estrangeiro vive em gueto. A generalidade dos muçulmanos não tolera que haja missionação atendendo a que tudo é considerado inferior à sua religião; consideram naturalmente lógico o seu direito de no estrangeiro missionarem.
Nos países muçulmanos a mudança de religião significa para os muçulmanos a pena de morte. Não conhecem a maturidade da autocrítica. O assassinato dos cristãos é o fruto da discriminação e da propaganda. Assim os turcos mais abertos recebem regularmente uma advertência… A execução não acontece por acaso. O 1°. Ministro da Turquia Erdogan é um islamista que fomenta o extremismo religioso e apoia os fanáticos. A religião torna-se meio e fim do seu imperialismo fascista.
Para testarmos a hipocrisia da nossa sociedade que mede com duas medida bastaria imaginarmos que o assassínio aos cristãos tivesse sido na Europa a muçulmanos. O mundo muçulmano levantar-se-ia e os europeus fariam manifestações por toda a parte a favor dos muçulmanos. Uma questão de diferentes consciências e sistemas políticos! A tolerância europeia tornou-se indiferença e a política relativamente à convivência cultural, uma política de avestruz. O recalcamento da nossa cultura, e o relativismo cultural da nossa intelectualidade e política conduzem ao silêncio e à falsa tolerância.
A fraca identidade dos alemães leva-os a pôr à disposição a própria cultura e valores numa tentativa inconsciente de lavar a culpa colectiva numa nova identidade de abertura ao mundo. A sua compreensão pelo gueto turco talvez lhe provenha também do facto de tender a gueto quando se encontra na diáspora. Correm também o perigo de se refugiarem no papel de querer ser modelo para o resto do mundo.
A Alemanha, o El dorado para muçulmanos, tem mais de 3.000 mesquitas em aumento acelerado. Imagine-se como se reagiria na Turquia se lá se permitisse a construção de duas ou três igrejas! Haveria tumultos.Não sou contra que os muçulmanos construam quantas mesquitas quiserem na Europa. Só questiono o facto de os mesmos que constroem mesquitas na Europa serem contra que se construam igrejas nos seus países e os políticos estarem de acordo. Em parte é compreensível que estes se calem com medo de fomentar extremistas religiosos também na Europa. O facto de não haver bilateralidade, acrescentado da incúria política, poderá porém fortalecer um clima de extremismo resposta numa altura posterior.
No diálogo com representantes muçulmanos importante é informar e argumentar dado tenderem a torcer a realidade. Organizações muçulmanas exigem tolerância mas apenas a tolerância que eles pensam, a tolerância das suas coisas. Um bom método é o de fazerem perguntas.
A Turquia não está madura para entrar na União Europeia nem os europeus estão maduros para compreender os turcos. Há quinhentos anos de premei, além do mais!... Um diálogo sério e não apenas de hipócritas ajudaria as duas civilizações a aproximarem-se e aprender mais uma da outra.
António Justo
António da Cunha Duarte Justo
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