Os conflitos do futuro dar-se-ão na luta pelas fontes de energia. A Rússia não é de palavra e o mundo do petróleo árabe quer, em contrapartida, a exportação da religião e do terrorismo.
Finamente, com a globalização, o terceiro mundo elevará o seu nível de vida. Isto significará uma corrida cada vez mais desenfreada às fontes de energia. A China e a Índia serão buracos sem fundo, tornando a fome de energia cada vez maior.
A Europa para não se tornar cada vez mais dependente terá de fomentar fontes de energia alternativa. As plantações de colza, que antes serviam de forragem para o gado ,cada vez são mais alargadas para aproveitamento do óleo de colza, extraído das suas sementes - o chamado “gasóleo biológico”.
O preço a pagar pela independência do fornecimento de energia do estrangeiro será muito alto. A plantação de colza na Alemanha aumenta de dia para dia. Se em 1998 se produziram 50 000 toneladas de óleo de colza, em 2006 a produção subiu para 3,4 milhões. Hoje são usadas 13% da área arável da Alemanha para a produção de matéria-prima e em 2030 poderão já ser 25%, o que aumentará muito a concorrência entre a produção alimentar e a produção de energia biológica.
Isto terá incisivas consequências benéficas para a agricultura e para a silvicultura e colateralmente o encarecimento dos produtos alimentares. Chamará as atenções para o campo.
A produção de energia biológica expandirá de tal modo que reprimirá substancialmente os terrenos de cultivo alimentar através do alargamento do cultivo de plantas para fins energéticos. A concorrência entre os cereais alimentícios e as plantas para a energia e para outras matérias primas vegetais será cada vez mais dura, como opina a universidade de Giessen na Alemanha. Cereais tornar-se-ão muito mais caros o que provocará um encarecimento progressivo dos preços para a alimentação. A produção de energia cada vez concorrerá mais com os géneros alimentícios. A agricultura e a silvicultura tornar-se-ão actividades compensadoras. Quem tiver dinheiro líquido para investir a longo prazo terá aqui, penso eu, um campo de investimento rentável. Seria miopia continuar a entregar os montes alentejanos de graça aos espanhóis.
A gasificação de massa biológica que aproveita madeira e restos de plantas tornar-se-á o ramo mais ecológico e económico do futuro.
A concorrência animará o negócio. Os preços subirão e então a Europa já não continuará a construir bloqueios à importação de produtos agrários do terceiro mundo.
No futuro mais que o diesel biológico serão muito mais eficientes e rentáveis combustíveis biológicos a partir da madeira e das plantas.
Isto terá como consequência a reflorestação das montanhas. O agricultor e o silvicultor serão então bem compensados.
Estaremos perante o início do regresso do homem da cidade para o campo? Oxalá!...
Facto é que os velhos valores da natureza estão de regresso…
Porque se persiste, a nível político e social, em continuar a andar atrás do acontecimento?
Neste contexto recomendo a leitura de “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett e “A Ciddade e as Serras” de Eça. Urge a re-humanização do homem da polis, do homo politicus.
Há mais que a alternativa de escolher entre “a horrenda imundície da gente” da aldeia com a sua “bem boa terra”, como sentenciava Eça, ou continuar a viver “no descampado do sentimentalismo”, na imundície duma mentalidade citadina proletária.
As novas perspectivas do campo poderão tornar-se oportunidade para uma nova filosofia e uma nova maneira de ser, estar e pensar. Há que abandonar a fixação na dialéctica natural-social para se passar a integrar os dois pólos.
A leitura de “Viagens na Minha Terra” com a sua inclinação dialógica preparar-nos-á para compreender a necessidade do diálogo entre o campo e a cidade. Garrett chama-nos a atenção para o conflituoso entre o Homem Natural e o Homem Social e para a dialéctica entre o frade e o barão, entre o idealismo religioso da religião / campo e o materialismo destemperado do barão, o partidarismo dos boys da cidade, que se tornaram nos herdeiros do sujeito burguês utilitário artificial das aparências.
Concluindo: Os barões voltarão à aldeia.
António Justo
António da Cunha Duarte Justo
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