Medrosamente, alguma imprensa fala da falta de dinheiro para se investigar a corrupção.
Por razões óbvias é muito natural que o departamento do Ministério Público encarregado de investigar a criminalidade mais grave – corrupção, crime económico e financeiro e crime organizado, não está de maneira nenhuma interessado em proceder a uma investigação séria. A corrupção tem muitos padrinhos e muitos deles têm assento na Administração estatal. Esta vai da concessão de encargos à colocação de pessoal, etc.
Confusão de partidocracia com democracia
É ingénuo querer que o Estado disponibilize dinheiro para tal fim e queira chegar mesmo aos infractores. Estando ele mesmo comprometido, numa sociedade democrática, esse papel só poderá ser assumido por um jornalismo que se assuma como poder ao serviço do povo e da nação, um poder ao lado dos outros poderes. Ora isso não pode acontecer em Portugal porque não há um grupo dos Media suficientemente potente com capacidade e vocação para poder assumir esse papel. Também não há jornalistas individuais com o capital necessário para se poderem dedicar a um jornalismo investigador sério. Se algum jornalista se aventurasse a esse trabalho, seria duplamente castigado porque o que as receitas da publicação do livro não chegaria sequer para pagar os primeiros passos nesse sentido. Por outro lado vive-se uma mentalidade subsidiária em que o suborno e o oportunismo fazem parte da tradição. Estamos num país em que reina o protagonismo, sem uma cultura gratificante para pessoas individuais que se levantem como a consciência da nação. O nosso meio só fomenta uns poucos de grupos de interesses e curte apenas personalidades partidárias. Só estas figuram, só estas são armadas em consciência não da nação mas do grupo de interesses que representam e passa equivocamente a ser vistos como representantes da nação. Não vivemos numa democracia mas sim numa partidocracia. Se o povo não está atento já na nossa geração teremos que constatar que a mal gerada e mal gerida democracia se desgastará e tornando-se então legitimamente contestada. Porque se persiste em andar sempre de revolução em revolução na repetição dos mesmos erros? Porque a motivação do agir é o bem pessoal (egoísmo) e não o bem comum e os fortes sabem que sobrevivem às revoluções. Quem se empenha verdadeiramente pela democracia sabe que o preço a pagar pela democracia é o bem-estar do povo. Quem ignora isto já se encontra a trabalhar em benefício da instauração duma ditadura.
Princípios éticos só complicam numa democracia chã.
A corrupção na economia, na política e na justiça cada vez se torna mais num cancro maligno.
Em Portugal como em toda Europa e em especial no Leste estabelece-se cada vez mais o domínio duma oligarquia anárquica, sem lei.
A corrupção cria uma espiral cada vez mais alargada porque traz consigo o encobrir da situação atendendo à subsequente chantagem. Mesmo o incauto que se deixe apanhar ocasionalmente pelo suborno então torna-se cúmplice para sempre tendo de manter no segredo as injustiças em que também ele está envolvido.
Este é um problema estrutural da sociedade e das instituições estendendo-se a todos os sectores da sociedade. Está em acção uma rede de diferentes interesses grupais ou individuais que não têm em conta o bem comum. Princípios éticos só complicam numa democracia chã. O que conta é o interesse pessoal (e quando muito partidário) que é colocado em primeiro lugar e à frente do interesse comum. O mais grave é que grande parte das elites estão comprometidas e a sociedade se encontra indiferente ao problema. Para termos a ideia do modo como a consciência social está emudecida ( e para não limitarmos a doença só a Portugal) lembre-se o exemplo dum Chanceler alemão (Gerard Schröder, homem da esquerda e representante dos ideais da geração de 68)) que na qualidade de 1° Ministro negocia com a Rússia tratados de fornecimento de gás à Alemanha e mal deixa de ser Chanceler passa da política para Co-administrador da empresa criada. Quanto a Portugal também não faltam exemplos. Pior ainda é quando os exemplos vêm duma esquerda que subiu em nome do povo fazendo carreira na política e depois se tornam muitops dos seus expoentes nos beneficiados dela conseguindo o estatuo social dos capitalistas que antes combatiam (A tal esquerda de caviar, etc.). Não falo já dos conservadores até porque o preconceito geral já os põe nesse rol.
O suborno e a corrupção tornaram-se questões menores numa democracia cada vez mais deficitária que se degrada cada vez mais em auto-serviço. Encontramo-nos a caminho da plutocracia.
Há muitos factores que explicam a razão porque se não reage contra a corrupção. Entre outras a está a concorrência internacional, a concorrência entre partidos e a luta por alcançar a posição mais forte, custe o que custar. Tudo isto leva a corrupção a tornar-se parte da cultura do negócio. Costuma-se dizer que “o segredo é a alma do negócio”! Para quem sabe ler também nas entrelinhas do texto (intra-texto) compreende que isso quer dizer: a corrupção, o suborno é a alma do negócio… Suborno e chantagem simplificam a entrega de incumbências. Aqui os pequenos, e as pequenas empresas não têm pedalada para lá chegarem. As pequenas empresas não têm a mínima oportunidade na concorrência e de iludir os concursos e a concorrência. Tudo acontece legalmente e os aparelhos de estado que também vivem disso calam e consentem, senão vejam a ordem dos advogados e outras… o povo quer-se longe!
Para evitar tudo isto seria necessário um controlo directo pelos cidadãos. Só assim se poderia evitar que nas democracias se faça de modo alargado o que nas ditaduras é reservado a poucos…
António da Cunha Duarte Justo
António da Cunha Duarte Justo
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