sábado, 17 de novembro de 2007

ISLAO E OCIDENTE – UM DIÁLOGO DESIGUAL E HIPÓCRITA

Quando o terrorismo levanta a voz, as democracias europeias tremem e os responsáveis desconversam. Então o acto ritual é comum e o mesmo numa liturgia uníssona: os governos declaram que o problema se reduz apenas a extremistas; os políticos das várias cores engraxam o povo e os terroristas passando as velhas contas do seu rosário já desgastado na repetição das palavras mágicas “diálogo” e “tolerância”; os profissionais do saber escusam-se dizendo que algures há um potencial movimento de muçulmanos moderados abertos ao modernismo; os jornais para abrandarem as possíveis fervuras e a sua incapacidade de raciocinar calam o problema ou dão-lhe a volta com a argumentação das cruzadas cristãs; o Zé-povinho mete o rabo entre as pernas, diz Ámen e reza a Santa Bárbara; e alguns que leram o Corão e as Instruções do Profeta (Hadites) murmuram baixinho a sacrílega fórmula: o mundo islâmico não é compatível com o mundo ocidental. Estes, destoando no meio de tanta harmonia, de tanta hipocrisia, na abnegação do saber e na cegueira do não querer ver, são tratados como os antigos mensageiros anunciadores de guerra.

Duas sociedades paralelas em diálogo paralelo!
De resto, tudo ouviu dizer, ninguém leu, ninguém se informou pois saber compromete! No caso chega a opinião; aquela verdade que alimenta o povo e é filha da ignorância ou da má intenção.
Também dos sinos das igrejas e dos minaretes das mesquitas ressoam só vozes de paz celestial. Também eles não estão e não vêem, só ouvem o barulho da turba que passa não se dando conta donde ela vem e para onde ela vai!
É uma conversa de autistas em que cada um dos contundentes se dirige aos seus adereçados. O Ocidente fala para o seu rebanho indiferente e os Islamistas para os seus soldados e para o seu povo de plantão! Duas sociedades paralelas em diálogo paralelo!
Isto não é a terceira guerra mundial, não é o Islão contra o Ocidente, é apenas uma espécie de guerrilha como nos tempos lusitanos entre os prosélitos de Viriato (com a sua estratégia de guerrilha) e as tropas dos generais de Roma. Hoje como outrora “tecnologias” desiguais. Tal como outrora as linhas de combate não estão demarcadas. As fronteiras são culturais, ideológicas / religiosas não se podendo localizar o inimigo. Se então o “petróleo” cativava Roma, hoje ele é limitado e o que prevalece e permanece é a cultura, na guerrilha de alfobres plantados... à imagem dos outros em terras jugoslavas!
Direitos individuais sacrificados aos direitos culturais
A acção e a reacção do mundo muçulmano ao mundo ocidental têm sido profícuas confirmando a sua convicção e entusiasmo no seu empreendimento mais prometedor em termos de futuro. Enquanto que o Ocidente se preocupa em encher os cofres dos bancos na expansão económica e na exploração das fontes de riqueza material, os muçulmanos dedicam-se à expansão da sua cultura, de forma agressiva na África e na Ásia e de forma imperceptível na Europa. Duas guerras, duas estratégias, uma perspectiva: ganhar. Os europeus ganham dinheiro, ganham o presente e ganham a má consciência; os muçulmanos por seu lado ganham respeito, ganham o povo, ganham o futuro!...
Os Estados não tendo ainda superado a consciência tribal vivem do negócio multicultural. Cada um na sua coutada, com o seu rebanho como presa não está interessado na defesa dos direitos humanos. A Europa mente quando diz que defende os direitos humanos porque os não transforma em moeda comerciável, porque os não inclui nas suas relações e contratos bilaterais, aquilo que faz a nível económico!
Assim, o mundo ocidental não se preocupa com a vida das pessoas e aceita tudo. Uma mulher da arábia pode testemunhar a opressão da mulher oprimida através do seu lenço de cabeça mas a mulher europeia não pode testemunhar a sua “liberdade” passeando em bikini no Irão, na Arábia. Delegações europeias vergam-se às exigências muçulmanas colocando o seu lenço na cabeça quando os visitam e até acham engraçado ver o mundo daquela perspectiva. Eles porém, quando vêm cá, chegam a boicotar o uso de álcool mesmo aos parceiros europeus em recepções bilaterais. Na Europa exigem a construção de mesquitas até com minarete e na sua terra proíbem as organizações cristãs. O Ocidente tem de ir ao encontro das exigências muçulmanas a ponto de ceder o próprio carácter mas eles não transigem em nada. Podem organizar as suas instituições e mesquitas em toda a Europa sem contrapartidas. Prisioneiros muçulmanos chegaram a exigir numa cadeia que conheço na Alemanha um cozinheiro muçulmano porque a comida preparada por cristãos era impura. Interessante é que a Turquia, que se apresenta como a moderníssima entre os povos muçulmanos, não permite a expressão pública religiosa a outras religiões que não sejam muçulmanas. Lá só é permitido um único padre católico para cuidar dos católicos da Turquia e do Irão. Cristãos que se atrevam a missionar na Turquia estão sujeitos a prisão até três anos. O toque de sinos é proibido em território turco. Há igrejas das quais foram feitos currais. Aos cristãos é-lhes proibido renovar ou construir igrejas. Ainda hoje, os cristãos na Turquia são identificáveis com o número 31 no Bilhete de Identidade. A Alemanha permite que anualmente os consulados turcos mandem para cá 300 Imames (chefes religiosos) por ano para garantirem a missionação autêntica. A Arábia – Saudita que não permite o exercício da religião cristã sequer privadamente em casa, financia em toda a Europa a construção de mesquitas com minaretes.
O Islão também expande na Europa devido a uma certa hostilidade de políticos europeus contra a cultura cristã
Embora muitos políticos europeus sejam religiosamente indiferentes deveriam empenhar-se na defesa da expansão do cristianismo nestes estados porque a recusa do cristianismo corresponde à recusa da cultura europeia, até porque na sua concepção só o homo religiosus conta. Sim à construção de mesquitas na Europa e não à construção de igrejas na Turquia - isso não pode ser! Assim se renuncia a um instrumento das convenções bilaterais que fomentaria a democracia nos países islâmicos. Seria fatal se o Islão se expandisse na Europa à custa duma certa hostilidade de políticos europeus contra o cristianismo. Aqui a questão não é religiosa é cultural! Quem não vê isso é cego. Em toda a discussão é propositadamente ignorado que o Islão é um sistema religioso que se identifica com o sistema político.
Se os políticos tomassem a sua cultura e a sua populacho a sério não só cederiam aos desejos muçulmanos mas teriam de exigir bilateralidade nas relações. Deste modo os grupos lobbies muçulmanos na Europa teriam de se empenhar e embarcar no diálogo e não apenas formular exigências.
A arte de se sentir melindrado
A reacção do mundo muçulmano às caricaturas sobre Maomé e à aula dada por Bento XVI em Ratisbona mostra sistema, competência e boa organização. A reacção do mundo ocidental às provocações islamistas e às exigências dos grupos muçulmanos na Europa mostraram incompetência, desrespeito pelo parceiro cuja filosofia desconhecem e falta de espinha dorsal! Por toda a parte só se observa cedência e má figura em toda a linha. Analfabetismo e indiferença quanto aos valores religiosos e seculares! Se o islamismo já pode muito, o medo e a ignorância ajudam-no.
Muitos preocupam-se com o sentimento muçulmano ofendido. O sentimento ferido até parece verdadeiro e autêntico pelo facto de ser sentimento. Por isso tem carta branca para tudo e exige logo uma contra-ofensiva de actos de desagravo da parte europeia. Uns e outros esquecem porém que para muitíssimos muçulmanos a existência do cristianismo já é uma ofensa, que a existência de Israel é uma injúria, e que os Estados Unidos da América constituem um insulto diabólico.
Se não houvesse tanta cobardia da parte dos europeus certamente que os irmãos muçulmanos nos respeitariam mais.
Resultado: Uma cedência só deve acontecer de forma recíproca para que se possam desenvolver processos de diálogo sério e se possibilitem mudanças nos estados islâmicos.

António Justo
António da Cunha Duarte Justo

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