sábado, 17 de novembro de 2007

PÁTRIA – FAMÍLIA – RELIGIÃO DE REGRESSO

A política ainda se encontra na taberna e a procissão já vai no adro. As bandeiras, a pátria e Deus estão de volta! Por todo o lado são visíveis novos sinais na procura dum novo espírito para o século XXI.
A avangarde já deu o que tinha a dar. Enquanto que nas sociedades periféricas ainda abunda o abstracto do preto e branco já na arte e na ciência são bem-vindas as cores e o figurativo. A mesma literatura também já se não envergonha de temas românticos e da cor local o que se vem confirmar na escolha do turco Pamuk para Nobel da literatura.
Por outro lado, a União Europeia (EU) com o seu Euro e o globalismo económico mundial e consequente socialização dos seus produtos obrigam-nos, não já a apertar o sinto mas a dar contas à vida e a poupar. O tempo do esbanjamento aproxima-se do fim em proveito do terceiro mundo. Os tempos de restrição favorecem os conservadores. Poupança não é coisa para socialistas, a não ser que sejam obrigados a isso, como está a acontecer por toda a Europa sob o regimento da UE. Poupar é mais coisa de donas de casa e de conservadores. A vida privada tem de ser mais pensada. O optimismo e o progresso são abrandados pelo facto de as fontes de energia e as matérias-primas terem de ser agora mais repartidas também pela Ásia e pela África.
Actualmente o Estado favorece o capitalismo económico e financeiro e neste o grande capital anónimo. Isto dá-se à custa daquela camada social, que antes do 25 de Abril, ou melhor, nas sociedades tradicionais constituía a força renovadora do Estado, a burguesia sempre orientada para a produção, o rendimento. Agora mais que o rendimento importa o lucro imediato à custa de tudo e de todos….
Nos tempos que correm passamos da brisa suave duma economia localizada para uma economia de rajadas dos mais fortes que limpam com tudo o que é pequeno. Num movimento tão vertiginoso e incalculável tornam-se óbvios valores conservadores baseados na sua palavra de ordem contenção. Agora, no perigo de nos levarem até a roupa vestida, torna-se óbvio conservar.
Depois das orgias à margem de filhos não tidos mas compensados com uma imigração irresponsável começam a surgir insónias inerentes a duas sociedades paralelas dentro da mesma nação. A sociedade precisa de reforços, de filhos mas estes já não são a bênção de todo o lar. Tornaram-se mais num peso contra as aspirações individuais da camada social média reduzindo-se quase a uma oportunidade compensadora para os pobres e para as comunidades muçulmanas.
Depois das lutas anti-autoritárias e contra a família, com a correspondente socialização do nível escolar pelas bases, surge agora o desejo de mais autoridade, a necessidade de escolas de elites.
Estes e outros factores criam a necessidade de uma nova orientação no comportamento e na mentalidade das pessoas. Deparamo-nos com uma tendência conservadora só que nem os conservadores genuínos nem a ala conservadora socialista estão preparados para dar resposta e expressão ao novo espírito latente. Este sentimento conservador, visível em todas as manifestações populares desde o futebol à religião, desde as escolas às universidades, precisa de ser captado e tornar-se expressão não só nos partidos do PS, PSD e CDS…
O centenário iniciado poderia conter a aspiração de se não deitar vinho novo em odres velhos. Há que preparar-se a mudança de mentalidades e iniciar uma estratégia nova em especial no meio da camada jovem ainda não pervertida. Só uma direita e uma esquerda renovadas poderão dar resposta às necessidades do novo século e servir o povo e a nação. PS / CDS e PSD tornam-se cada vez mais iguais nos programas e actuações, tendo como consequência o fomento duma esquerda irrealista e mais radical. Conservadores de fato ou de gesto e esquerda de caviar desonram as filosofias que pretendem representar. Os socialistas terão de se desamarrarem das cargas herdadas do 25 de Abril, à la Soares. Uns e outros precisam duma restauração para poderem dar resposta às exigências do séc. XXI. Não chega continuar um discurso de cigarra baseado em modelos de sociedade já falhados e tentar apenas compensar esses défices com arranjos ad hoc prentensamente legitimados por carícias de povo mal informado.
Também nas escolas não chegam as aulas de Ciências Sociais, é necessário o estudo sério da História que não deve ser castrada e colocada à disposição dum regime e duma classe política.
O modo de estar de socialistas e conservadores, a continuar como até agora, leva ateus críticos e pensadores cristãos a engrossarem as fileiras de pequenos dissidentes ou a distanciarem-se da política.

António Justo
António da Cunha Duarte Justo

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